A água, elemento essencial à vida, bem escasso e cada vez mais importante para a nossa sobrevivência no frágil planeta que habitamos, pode ser, também, “matéria artística” que se molda como traço, gesto, som, fluindo no tempo e no espaço. Ligando tudo e todos, pois é essa a natureza da água.

Diz-se que há uma linguagem falada pelos pingos da chuva, ondas do mar, fontes e rios. Que até nas nuvens se ouvem conversas, bem como nas gotas do orvalho, onde ela adquire formas delicadas que só se ouvem de manhã bem cedo. No oceano profundo, pelo contrário, soa grave e majestosa. Como acontece com outras linguagens cujos dicionários ainda estão por fazer, requer uma escuta atenta e a capacidade de imaginar. Quando assim é, soa a música. É este o ponto de partida da constelação artístico-educativa Aguário: um conjunto de três experiências autónomas, que podem ser apresentadas individualmente ou de forma articulada, permitindo que diferentes públicos, de diferentes formas, possam entrar numa viagem artística que usa a água como ponto de partida para a contemplação e fruição mas também para a sensibilização ambiental.

A peça-mãe, Aguário, é um conjunto de “poemas performativos” onde as múltiplas vozes da água e dos seres que nela habitam se misturam com o piano, a voz humana, o corpo e o movimento, a projeção de imagem e os objectos cénicos. Com referências subtis a vários universos musicais, a viagem sonora atravessa paisagens gravadas e sons produzidos por objectos cénicos-sonoros que usam a água como fontes de som e de imagem captadas em tempo real. A acção teatral desenvolve-se também a partir da manipulação da água, transportando o espectador para um universo onírico onde o abstracto e o concreto se cruzam, o sentido de humor e os assuntos sérios fluem como se jorrassem da mesma fonte. É um espectáculo pensado para um público a partir dos 6 anos e para espaços performativos equipados com luzes, som e um piano de cauda. O público senta-se na plateia e o espectáculo decorre no palco, mas são criadas várias formas de “aproximação” ou “participação” que estabelecem uma cumplicidade entre o público e os artistas.

A peça-portátil, PaPI-Opus 9, é uma experiência pensada para bebés e crianças pequenas, num formato de grande intimidade, que estimula a escuta atenta e a interação e que permite a apresentação não só em espaços performativos convencionais (sendo que nesse caso o público se senta no palco) mas também noutros espaços como bibliotecas ou jardins de infância. À semelhante dos outros PaPIs (Peça a Peça Itinerante) pretende-se fazer chegar mais longe, mais cedo, mais perto, o contacto dos mais pequeninos com a música-teatral. A sonoridade da manipulação dos elementos cénicos cruza-se com paisagens sonoras imaginárias construídas com sons gravados; os pingos da chuva, ondas do mar, fontes e rios, baleias e icebergs fazem parte duma linguagem universal de que a voz e o movimento também fazem parte. Conversas em “agualim”, um dos dialetos da música cujo dicionário está por fazer e ainda bem.

As Oficinas da Água são um formato aberto baseado na ideia de “residência artística”: um artista multidisciplinar trabalha com um grupo de pessoas e ao longo dum período de tempo definido em conjunto com a entidade de acolhimento, explorando ferramentas e territórios expressivos que têm por base a peça Aguário. Nas Oficinas da Água concertam-se ideias e linguagens artísticas (música, imagem, movimento) para abordar de forma poética a “matéria” sem a qual a vida, como a conhecemos, não é possível. A água é parte de nós e é um bem cada vez mais escasso e precioso. Trabalhar a água como matéria artística é não só um ponto de partida para o desenvolvimento da expressão e criatividade mas também uma forma de consciencializar para a importância de cuidarmos uns dos outros e do Planeta que é a nossa casa.