Impressões do X Encontro Internacional Arte para a Infância e Desenvolvimento Social e Humano

Parte I (28 de novembro de 2020)

Dar as mãos, prolongar o corpo através de objetos, ter uma palete de cores vivas à mesa, olharmo-nos uns para os outros, imitar, associar, rir, cantar canções de embalar, ritualizar com um cântico no início e no final de um encontro… Creio que tudo isto são gestos, gestos humanos e irreplicáveis por máquinas de inteligência artificial (qual o algoritmo que é capaz de reproduzir o amor?), que têm como finalidade resgatar a Voz Materna perdida em e por nós, desde o momento da nossa separação do ventre materno. Não será a vida, desde o nascimento até à morte, uma busca sem fim dessa mesma Voz que sentimos ainda quando estamos dentro das nossas mães? Não será a ausência dessa Voz a própria Saudade, sentimento que inspira e expira o nosso pensar, falar e agir na direção da re-ligação, não com a mãe, mas com a Mãe, o “nada que é tudo” (expressão de Fernando Pessoa que mais tarde foi usada por Agostinho da Silva) que tudo envolve e permeia? E por último, não será a Música a manifestação por excelência desse mesmo pensar, falar e agir, que de forma mágica e alquímica transubstancia a Saudade em Saúde (primitivação de palavras apresentada por Paulo Borges no seu livro “Da Saudade como Via de Libertação”), desenvolvendo-se assim todos os bebés prematuros deste mundo com qualidade de vida e cooperando as pessoas umas com as outras na edificação de um mundo mais harmonioso? Viva a arte! Viva o fazer criativo!, pois o Ovo não é utopia – o seu não-lugar situa-se numa boda que, dentro de nós, nos é oferecida desde e para todo o sempre.

Parte II (29 de novembro de 2020)

“O sino cala-se –
em eco
as flores perfumam a noite!”
(Matsuo Bashô)

A poesia… Com raiz no latim “poesis” e no grego “poíesis”, etimologicamente poesia significa criar ou fazer… Ou fazer de forma criativa. E creio que foi isso que a segunda parte do Encontro nos transmitiu: a mensagem de que é fundamental e cada vez mais estarmos uns com os outros de forma construtiva e criativa, o que na linguagem da Antiguidade nos remete para o con-viver poético. E isso viu-se no filme “Murmuratorium”, um poema cujos rumos e rumores se centram na simbiose com a Mãe Natureza, onde o Poeta, através da arte do movimento, da dança, da música, do sonho, do surrealismo daliliano do tempo curvilíneo emanado pela centopeia sonora e gigante, ou através das vozes celestiais ligadas à terra pela corda do violoncelo, liberta-se, tal os pássaros que, sustidos pelos nossos braços, rasgam os céus circulando à volta do nada.

Segundo a teoria do entrelaçamento quântico, duas partículas localizadas em constelações diferentes podem estar de tal forma conectadas que, tudo o que acontece numa acontece na outra. E isso também se viu no bater síncrono de asas nascidas na ponta dos dedos das mãos de centenas de pessoas-pássaros que, espalhadas por vários pontos do Universo – desde Portugal (de sul a norte e ilhas), passando pela Noruega até ao Brasil – cantavam a uma só pluri-voz:

“Corre água
Todo o rio corre para encontrar o Mar”.

Pedro Rodrigues
Participante no X Encontro Arte para a Infância e Desenvolvimento Social e Humano

 

Nuvem de palavras avistada depois do X EIAIDSH ou o que disseram os participantes sobre o Encontro